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08/07/2018 - 21h11m

ENTREVISTA

Em entrevista ao Jornal Opção, Marqueteiro diz: "Carlesse é o 'desejado' para a eleição de outubro"

Dock Júnior

Marqueteiro fala do trabalho que realizou para o sucesso no pleito suplementar, ressaltando que o principal foram as qualidades pessoais do governador

 

Na visão do secretário de Comunicação do Estado do Tocantins, João Neto, o marketing não é propaganda nem tampouco comunicação, e sim uma caixa de ferramentas, que inclui propaganda, pesquisa, publicidade, distribuição, etc. Com essa concepção, o gestor da Comunicação Institucional do governo esteve à frente do marketing político do governador eleito para o mandato-tampão, Mauro Carlesse (PHS).

João Francisco Aguiar é goiano de Ceres, graduado em Administração de Empresas. Em que pese ter ligações com o Tocantins desde 1992, onde chegou a atuar como repórter na antiga Comunicatins, residiu nos últimos sete anos em São Paulo, e neste tempo escreveu cinco livros sobre política, obras nas quais utilizou o pseudônimo de João Aguiar Neto.

Regressou ao Tocantins em julho de 2017, com o fito de prestar assessoria de marketing político ao então deputado estadual Carlesse, após a posse deste como presidente da Assembleia Legislativa. E continuou na equipe do parlamentar quando este ascendeu ao comando do governo, com a cassação de Marcelo Miranda (MDB). Em entrevista ao Jornal Opção, ele fala do trabalho realizado na vitoriosa campanha suplementar e de marketing político em geral.

O governador Mauro Carlesse venceu a eleição com um resultado inquestionável, com mais de 75% dos votos válidos no segundo turno. O sr. foi o responsável pelo marketing, portanto, conseguiu mostrar o verdadeiro Carlesse ao público. Como isso foi possível?
Mauro é um sujeito que saiu do nada e tornou-se um empresário e um político de sucesso. Ele acredita na geração de emprego e renda, de modo que haja desenvolvimento e o cidadão possa sobreviver por si só, sem depender excessivamente da União, do Estado ou do município. Nosso trabalho foi mostrar que ele é avesso ao gigantismo do Estado, que protege em demasia, mas não oferece oportunidades, emprego, orientação e crescimento dos cidadãos.

Ficou claro que suas técnicas foram colocadas à prova na eleição suplementar. Até que ponto elas contribuíram para a vitória de Mauro Carlesse?
O primeiro passo foi convencê-lo de que a eleição suplementar não era como a de outubro. Ele compreendeu o sentido disso tudo, porque esse pleito tratava do presente e não do futuro. Esse, inclusive, foi um dos erros dos adversários, que prometiam, prometiam e prometiam para um futuro longínquo, quando na verdade, o mandato duraria apenas até 31 de dezembro deste ano.

A população estava diante de um problema: a troca do governador. Então, as medidas a serem implementadas tinham que ter projeção de presente e não de futuro. Propomos estabilidade e execuções de ações imediatas. Colocamos a máquina para funcionar e provamos que era possível fazê-lo. O slogan “O governador certo, na hora certa” foi muito mais do que perfeito para aquela situação, porque ele estava no exercício do cargo e precisava apresentar ações e resultados para os problemas atuais e não os futuros.

A quais fatores o sr. atribui seu candidato ter praticamente dobrado a votação no segundo turno, enquanto o adversário diminuiu?
O discurso da estabilidade foi preponderante. As pessoas perceberam que não havia alternativa para o Estado do Tocantins, naquele momento. O voto era do candidato que representava a estabilidade e servia apenas para quem estava no exercício do cargo de governador naquela hora. Contudo, Carlesse aproveitou para incorporar outras ideias, agregar outras vertentes políticas. Pesquisas revelaram que o nível de credibilidade dele cresceu. Hoje, o ex-prefeito Amastha já não é absoluto na cabeça das pessoas, como outrora, quando exercia a condição de único político capaz de trazer desenvolvimento para o Tocantins. Após a campanha política, mais de 50% dos entrevistados entendem que Carlesse também tem essa capacidade. Em suma, a ideia inicial, “o governador certo, na hora certa”, havia sido compreendida pelo eleitorado.

Os servidores públicos se engajaram na campanha de Carlesse? Esse foi um dos diferenciais para obtenção do êxito?
Sim, eles entenderam e sentiram que era a melhor opção para Estado do Tocantins. Passaram a se questionar por que Carlesse estava conseguindo pagar salários no início de cada mês, porque o plano de saúde estava funcionando e porque os repasses do Igeprev (Instituto de Gestão Previdenciária do Estado) estavam sendo feitos e, finalmente, porque a gestão anterior não conseguia. Eles perceberam que era possível, se o governo quisesse, implementar melhorias. Por isso, a grande maioria se engajou espontaneamente, votou e ainda trouxe mais outros tantos votos.

A adoção de um modelo em que o candidato fala de si e de suas propostas, em vez de expor as deficiências e problemas dos adversários, é a melhor opção?
Sem dúvidas. Esse modelo agressivo está fadado na ampla maioria das vezes ao fracasso. As eleições contemporâneas comprovam que a tática do ataque não funciona. O eleitor as rejeita veementemente. A apresentação de reiteradas denúncias contra o candidato A ou B não convence o eleitorado, porque ele quer tirar suas próprias conclusões, ao invés de ser induzido. Ao mesmo tempo, o candidato que se mantém impávido diante de constantes ataques demonstra coesão e segurança, conseguindo passar ao eleitor a ideia de que o desespero do agressor não o atinge.

Numa eleição suplementar há uma rejeição por parte do eleitorado, como se ele se mostrasse desinteressado em resolver um problema [cassação] que não foi ele que causou?
Essa mentalidade existe e fica mais agravada na eleição suplementar, principalmente se ainda ocorrer em dois turnos.

A abstenção na eleição suplementar foi muito alta. Na condição de cientista político, a quais fatores o sr. atribui o fenômeno? Por que houve também alta rejeição aos três senadores no exercício do mandato, entre os quais dois que disputaram a eleição [Vicentinho Alves (PR) e Kátia Abreu (PDT), e o terceiro [Ataídes Oliveira (PSDB)] que estava umbilicalmente ligado à campanha de um deles [? 
A abstenção e o voto nulo não são novidades para quem estuda e analisa outros pleitos. Desde a eleição do ex-presidente Lula (PT) isso vem ocorrendo, uma vez que naquela eleição, apenas 30% dos votos foram válidos. Naquele momento, a lei foi alterada, porque até ali, 51% dos votos nulos seriam capazes de anular a eleição. Mas a norma foi alterada e hoje, os votos nulos sequer entram na conta.

O certo é que a insatisfação e a desilusão do eleitor são antigas. Ocorre que os políticos não conseguem perceber os anseios da sociedade que, diga-se de passagem, está muito à frente da classe política. Os políticos, infelizmente, não se reciclam, não enxergam isso. Há uma errônea ideia de que quanto mais tempo durar o mandato, mais protegido ele estará, contudo, isso é ilusório. A ampla maioria dos políticos, depois que assumem o cargo, se fecha numa bolha, acha que não precisam ouvir ninguém. Os poucos que escutam, tornam-se figuras exponenciais. Já a grande maioria fica estagnada. Eles imaginam que – no exercício do cargo – tudo o que desejam, acontece. É o mal do poder. Ora, se tudo é tão fácil, qual a razão para mudanças e novos aprendizados? O poder dá a sensação de sabedoria e capacidade, quando isso não é a reflexão da verdade. Somos o que somos, independentemente do cargo ocupado e, se não nos reciclarmos, continuaremos a ser quem éramos.

Neste contexto, como o seu assessorado se comporta?
De forma muito tranquila. Quando eu sugiro algo, não é da natureza dele aceitar de pronto. Ele questiona, pergunta porque ele deveria agir dessa forma ou daquela. Então, eu explico as razões e na maioria das vezes o convenço. Ele é inteligente, compreende e aceita que deve aprender ou se reciclar. Ele se inclui na dinâmica do projeto, faz suas contribuições, se integra e se compromete. A partir daí, tudo fica mais fácil. É um processo quântico e natural.

Algumas pessoas criticaram Carlesse por ter se aliado à “velha po­lítica”. O que o sr. diz dessa crítica?
As críticas sobre o palanque pesado são incoerentes. O grupo foi formado e o governador eleito nunca bateu em seus antecessores ou outros políticos. Ao contrário, os respeita, mesmo porque há todo um contexto histórico na trajetória daquelas pessoas. Entretanto, Carlesse não pensa e age como eles nem tampouco quer repetir seus erros.

Há um mito que o eleitor costuma se decidir apenas nos últimos 15 dias da eleição. Até que ponto essa premissa é verdadeira?
Nas eleições proporcionais, sim, contudo, esse fenômeno não ocorre na majoritária. Erroneamente, os brasileiros desvalorizam a atuação do parlamento. Avaliam que salva-se um ou outro, mas que a ampla maioria está ali para roubar. Na cabeça da grande maioria do eleitorado há essa concepção, mas se esquecem que os deputados federais, estaduais e vereadores têm mais peso na vida dos cidadãos que o presidente da República, governadores ou prefeitos. Estatísticas comprovam que – seja em São Paulo ou Tocantins – o deputado estadual mais votado teve entre 2,5% e 3% dos votos. Isso significa que ele não é a opção de aproximadamente 97% da população. Os dados também indicam que 70% dos eleitores, após um ano da eleição, não lembram mais em quem votaram.

Como se explica isso?
No Brasil, 30% do eleitorado em média faz parte do chamado público político. Em contrapartida, 70% estão fora deste contexto. Ocorre que tudo se decide no primeiro grupo de eleitores e não no segundo, que é muito maior. Esses 30% são as molas propulsoras, as lideranças e estão divididas em 35 partidos. Por isso, a briga incessante pelo controle das siglas partidárias, que causa a impressão de que quanto mais partidos houver na coligação, mais forte ela será, todavia, ainda assim continuarão a não falar com os 70% restantes.
Não importa se houve redução do tempo da campanha ou dos horários televisivos. O eleitor desinteressado continuará sem assistir ou ouvir os programas eleitorais. Neste caso, quanto mais fragmentos alinhados dos 30% houver, mais será possível contagiar o grupo dos 70%.

E quanto às majoritárias?
Nesta disputa o crescimento deve ser crescente e constante, ao longo da campanha. Não pode começar lá em cima, caso contrário, haverá um enxame de “pancadas”. Se começa lá embaixo, deve haver um trabalho sólido, sem esperar golpes de sorte, que se transforma no resultado positivo, na medida em que o eleitor se identifica com o candidato e sente sinceridade em seus discursos.

No que concerne às fakes news, tão comuns em época de globalização e popularização da internet e das redes sociais, qual é o grau de influência numa eleição?
Voltemos à máxima retromencionada de que 70% dos eleitores estão longe do processo político e apenas 30% deles estão intimamente envolvidos. As fakes news vão girar apenas entre o último grupo. Dentre deste contexto, se a notícia for contrária a um determinado candidato, o eleitor dele não acredita, como também não compartilha; se for favorável, ele acredita e propaga.

Já o grupo dos 70% não é atingido porque quando a notícia chega, verdadeira ou falsa, ele deleta, uma vez que na visão dele, propaganda política partidária não interessa, é apenas artifícios para lhe roubar. Ele não se envolve, enfim.

Assim sendo, notícias boas ou ruins giram apenas entre os militantes, entre aquele círculo de pessoas. A ideia de que essas informações contagiam o cidadão apolítico é uma falácia.

Não há como não pensar nas eleições ordinárias a serem realizadas em outubro. O que esperar deste pleito? E a pergunta mais importante: Carlesse é candidato à reeleição? 
Carlesse tem dito claramente que não quer falar de política e eleições neste momento. Ele acabou de ser eleito para um mandato que se encerrará em 31 de dezembro e acredita que muita coisa tem que ser feita até aquela data.

Mas minha função é analisar o cenário, as pesquisas, a percepção do eleitorado. Consigo vislumbrar um cenário em que, claramente, ele vem despontando como o “cara desejado”. As ações de governo são propositivas e a população tem percebido que é possível implementar mudanças, manter a credibilidade e a estabilidade, que geram oportunidades, e, por fim, melhorar a vida das pessoas. Por isso, dificilmente Carlesse não disputará a reeleição. É o candidato natural. Contudo, ele apenas voltará a falar de eleições no momento certo. O mote governamental agora é o trabalho incessante. O tempo é muito curto, o que nos exige ações rápidas e eficazes.

O sr. é autor de vários livros. Quais as vertentes de sua mais recente obra, “A Democracia no Varejo”?
A temática do livro é basicamente a percepção do indivíduo sob a ótica do grupo. Ele não é percebido individualmente. A democracia do país gira em torno de grupos, quer seja movimentos de negros, quer seja grupos de sem terra, sem teto ou LGBT. O governo tem primazia pelas minorias, todavia, a grande maioria está isolada individualmente, pagando a conta, mas não sendo percebida. Essas pessoas não vão para as ruas, não rasgam bandeiras, não fazem pichações, mas elas sentem todo o impacto, caladas. O objeto de análise da obra é basicamente o estudo dessa camada da população.

Engajado na literatura e, naturalmente, conseguindo sucesso em tal empreitada no maior centro cultural do Brasil, São Paulo, o que o levou aceitar o desafio de regressar ao Tocantins?
Em meados de 2017, com o então deputado estadual Mauro Carlesse eleito presidente da As­sembleia Legislativa do Tocantins, ele me fez o convite para assessorá-lo. Era um novo desafio, um novo trabalho. O advento da eleição su­plementar foi inesperado. Tínhamos ideia que a cassação do governador Marcelo Miranda pudesse ocorrer, evidentemente, porque existia um processo um curso, mas a ocorrência das eleições suplementares, não.

Ainda na condição de presidente do parlamento estadual, Carlesse iniciou o discurso municipalista, visando prestigiar os gestores municipais e se posicionar de forma veemente, questionando o governo estadual em prol da população. À época, o gestor do Palácio Araguaia o rebateu e esse foi o maior erro. Resultado: Carlesse ganhou um palanque que não tinha, passando a exercer uma certa liderança sobre os prefeitos, ocupando espaços, ganhando notoriedade.

Após a cassação, iniciamos a missão de elegê-lo no sufrágio extraordinário, mas havia pesquisas que indicavam que ele tinha um grupo muito pequeno em torno dele, como também, havia um desconhecimento do seu nome, em relação ao grande público, de quase 68%. Tivemos que reverter, paulatinamente, esse entrave.

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