Mais de 700 educadores das 13 Superintendências Regionais de Educação (SREs) estão reunidos em Palmas, nesta segunda-feira, 14, no Encontro Formativo de Educação Antirracista do Tocantins, no Centro de Convenções Arnaud Rodrigues. Promovido pelo Governo do Tocantins, por meio da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), o evento, que ocorre até 15 de abril, tem como objetivo fortalecer práticas pedagógicas antirracistas nas escolas tocantinenses.
A iniciativa faz parte do projeto Poder Afro de Combate ao Racismo nas Escolas Estaduais e o Programa de Fortalecimento da Educação Indígena (Profe Indígena), e integra a Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola (Pneerq).
Na abertura da formação, o secretário de Estado da Educação, Fábio Vaz, elencou as ações do Governo do Estado de fortalecimento da educação antirracista e de valorização dos servidores. “Esse encontro oportuniza formação presencial para professores de história das nossas escolas estaduais, para os secretários municipais de educação e lideranças. Temos um governador negro, filho de professora, que reconhece a importância dessa política que ressignifica e dá voz aos que foram invisíveis por muito tempo. Estamos iniciando uma mudança significativa, que me enche de orgulho, e que não se faz apenas de intenções, mas sim nas escolas, com práticas consistentes que vão transformar a vida dos nossos estudantes”, pontua.
O titular da Seduc destacou ainda a produção e a distribuição do material didático do Poder Afro para todas as escolas estaduais e dos livros específicos para as escolas indígenas, contemplando as especificidades de cada povo. Na Seduc, a atual gestão criou uma diretoria específica para a educação indígena e quilombola.
“Sabemos das dificuldades que todos enfrentamos diariamente, estamos caminhando e ainda precisamos avançar muito. Estamos investindo nos nossos profissionais, valorizando o professor, com formação presencial, com o concurso da educação, que teve vagas específicas para as escolas indígenas. A educação pública só terá resultado efetivo se o professor encontrar sentido na proposta, pertencente a uma rede que trabalha unida na educação de território”, destacou Fábio Vaz.
Olhar docente
Para a professora Dângela Rodrigues, da regional de Gurupi, a formação inaugura um novo tempo em sua jornada profissional. “A educação é uma ferramenta poderosa para transformar a sociedade, e essa oportunidade de estudarmos, discutirmos, nos apropriarmos dessa temática, fará muita diferença na minha prática docente. Sou professora no Estado há 15 anos e essa é a primeira vez que estou participando da formação presencial. Estamos ávidos por esse tipo de informação, de orientação, que renderá frutos não só para a escola, mas para a sociedade e as gerações futuras. Não basta não ser racista, precisamos difundir a educação antirracista, que nos dá esperança de um mundo muito melhor”, ressaltou.
Dentre os participantes, o professor Danel Pereira, de Araguaína, relatou que já trabalha com o Poder Afro e acredita que a formação presencial contribuirá para a continuidade e o fortalecimento das ações nas unidades de ensino. “Já utilizamos o material do Poder Afro no ano passado [2024] e este novo encontro é muito satisfatório, muito rico e fortalece a nossa prática em sala de aula, agregando conhecimentos da cultura e da história negra e indígena do nosso país. Este momento formativo instrumentaliza o professor para trabalhar o combate ao racismo nas escolas, mas principalmente formar essa consciência coletiva de antirracismo. Temos um longo percurso pela frente, um trabalho em longo prazo, e estamos confiantes de que poderemos contribuir para formar cidadãos mais conscientes e sem preconceitos raciais”, salientou.
O secretário de Educação de Sucupira e presidente da União Nacional dos Dirigentes de Educação Municipal (Undime-TO), Humberto de Campos, falou em nome dos 139 gestores municipais presentes no evento. “Temos a felicidade de ter essa educação de território, os municípios integrados com o estado para o fortalecimento da educação de território. Juntos por uma educação transformadora. Toda a população tocantinense está sendo bem assistida por meio dessa parceria. Com o apoio do governo, estamos nos tornando referência na educação do Brasil”, frisou.
Natanael Santos

Contando a história do negro no Brasil e encantando o público, o doutor em história, Natanael Santos, foi o primeiro palestrante do evento. “Segundo o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], 55% da população do Brasil é negra e nós não conhecemos as nossas raízes, a nossa história e, às vezes, nos envergonhamos das nossas origens. Nas escolas, as crianças têm vergonha do cabelo, do nariz, isso dói, mas porque falta informação. A narina rebaixada, o lábio grosso, o cabelo, tudo isso é uma riqueza; e nós queremos que os nossos estudantes se apropriem, se orgulhem de serem negros e de sua origem negra”, ponderou.
Pesquisador no campo da historiografia africana desde 1983 e membro fundador do núcleo de pesquisas de estudos afro-brasileiros da Universidade de Campinas (Unicamp), Natanael e a banda Griô contextualizam a palestra com uma performance musical executada com instrumentos de origem africana, com destaque para diversos aspectos da história dos negros e dos indígenas no país.
“Precisamos refletir sobre a contribuição do negro na sociedade brasileira, sem esquecer as negras lembranças, que trazem dor, mas também muita honra de tudo que trouxemos para o Brasil. Temos que levar, para nossas escolas, as qualidades dos nossos heróis e heroínas negros e indígenas, para que nossos estudantes tenham orgulho das raízes. Precisamos contar a história contextualizada para que possamos dar visibilidade e reconhecimento à identidade afro-ameríndia para levar esse pertencimento aos estudantes, que levarão esse empoderamento para suas casas, transformando assim a nossa sociedade”, enfatizou Natanael.
Programação
A programação conta com mesas-redondas e palestras para discutir estratégias de combate ao racismo e promover a equidade racial nas escolas públicas. Para orientar os educadores quanto à utilização do material pedagógico, será realizada a oficina: Letramento Racial e Articulação da implementação da coleção Minha África Brasileira e Povos Indígenas.
Na terça-feira,15, será lançado o Selo Escola Antirracista, que visa valorizar as unidades de ensino que se destacarem pelas ações relacionadas à temática.
Também no dia 15, um dos momentos mais esperados é a palestra Lugar de fala nas escolas: por que representatividade transforma realidades?, com a filósofa e escritora Djamila Ribeiro, uma das principais vozes do movimento antirracista no Brasil. A palestra é exclusiva para os profissionais já inscritos.
Djamila Ribeiro é ativista, escritora e coordena a iniciativa Feminismos Plurais. É autora de Lugar de fala (2017), Quem tem medo do Feminismo Negro? (2018), Pequeno manual antirracista (2019) e Cartas para minha avó (2021), que já venderam mais de 1 milhão de exemplares. É professora universitária com passagens por diversas instituições, como pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e pela New York University.


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