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13/01/2017 - 19h13m

ARTIGO

Por Gilberto Ferreira: Qual o valor de uma vida?

Gilberto Ferreira (Acadêmico do Curso de Serviço Social - Ceulp/Ulbra)

Na tarde nublada da primeira sexta feira 13 de 2017, como de costume, em tour pelos jornais eletrônicos do país, de repente deparei-me a ler uma matéria que tinha como título: “Família de cada preso morto no Amazonas deve receber R$ 50 mil”.

Ao aprofundar a leitura, entendi que cada uma das 64 famílias que perderam seus entes, terá direito por meio da decisão da Defensoria Pública daquele estado encaminhada ao governador, o montante citado.

Reforçando o disposto, na escrita encontram-se trechos que apontam que o próprio executivo já havia posicionado favorável ao pagamento mencionado por entender que a segurança daqueles homens (presos) deveria ter sido garantida pelo estado.

Diante disso comecei a me perguntar silenciosamente qual o valor da vida. E para a minha surpresa, não foi fácil encontrar resposta. Muito menos uma expressão da matemática, da física, da química ou bioquímica das quais tenho entendimento (por mais que superficial) que me oportunizasse conhecer um denominador comum para tal indagação.

Movido pela inquietude do momento, vasculhei alguns inscritos e ao lado do computador, alcancei o bloco de anotações do trabalho junto com uma caneta e comecei a rabiscar este texto. E logo percebi que o fato de não encontrar respostas a minha pergunta não significava um erro somente meu, falta de memória ou de déficit intelectual. Conclusão que me preocupou mais ainda.

Vi que o valor da vida (de sua vida) atualmente não é atribuído por mim ou por você que não sei por qual motivo parou seus afazeres para ler este texto tão longo em tempos de Whatsaap, facebook, Snape Chat, entre outras ferramentas e aplicativos que seiva diuturnamente o nosso tempo e a nossa sensibilidade para as coisas reais e que impactam a nossa existência como, por exemplo, saber o valor da sua vida e de quem está próximo.

Com este enigma me tirando o sossego e me chamando a atenção á realidade (pasmem), percebi que a vida não tem mesmo um valor único.  A inércia do ego, a incapacidade de reflexão e a ausência de esperança, causadas muitas vezes pelos ardis do sistema globalizado e voraz que nos abraça, tem quantificado, datado, diminuído e anunciado o valor da existência daqueles que na sua essência partilham do mesmo desejo: viver.

O valor atribuído a vida ou a falta dele é resultado de tudo que encontramos nela e de como encontramos. E foi um dos comentários deixados por um cidadão ao final daquela noticia, que me apresentou o ponto mais alto dessa realidade.  “Que absurdo, Tem que matar esse defensor público e os canalhas que jogam nosso dinheiro no lixo, pagando para esses vagabundos. Então a mulher do sujeito não sabia que ele era bandido? e Ainda vai ser indenizada???? só nesse pais mesmo...” dizia trecho do comentário.

Percebe-se que a essência do fato existir (viver) foi definitivamente suprimido diante das situações em pauta, talvez pela indignação do leitor e o descaso do poder público em tentar paliar as conseqüências de uma tragédia anunciada e que poderia ter sido evitada com uma boa dose de boa gestão.  E aí, retomo a pergunta inicial: Qual o valor da vida?

Resposta a perguntas simples como esta tem se tornado cada vez mais difícil na contemporaneidade, onde o ego e o individualismo em sobressair ao outro ou o de ser mais importante, é necessidade essencial na vida de todos. Tempos em que a saída, o remédio e a cura para aquilo ou aquele que não partilha da mesma forma de pensar é a morte, o esquecimento ou alienação.

Época em que a tolerância e a paciência tornaram-se sinônimos de burrice e acomodação. Mas que a vontade de lutar, de vencer e posicionamentos diferentes, são combatidos com veemência e repressão. Isso, sem dúvidas tem impedido o ser humano de se evoluir intelectualmente. E essa evolução não se refere a títulos ou diplomas oferecidos pelas faculdades que também formam não mais para a vida, mas, para e definitivamente o mercado. Mas, sim dos valores, princípios, respeito, amor, honestidade e da ética.

Palavras que abarrotam as Time line’s, as mensagens velozes dos App’s e enfeitam os discursos ovacionados das casas de leis deste país, mas, que tem efeitos e ações mínimas na vida ativa e cotidiana da sociedade.

A insegurança vivenciada no presente e a falta de perspectivas com relação ao futuro, tem causado o maior êxodo já vivenciado neste planeta e que talvez os livros de histórias não trarão nas suas páginas (isso, se continuarem a existir): o êxodo terrestre. Diariamente milhões de seres migram para um mundo paralelo (internet) onde expõe suas opiniões, paixões, necessidades, seus incômodos e seus medos, voltando a passeio a realidade.

No entanto, a cada viagem realizada, menos imigrantes voltam, criando ali, distante de tudo, uma legião de milhares de refugiados que vivem atônicos e atentos ao mesmo tempo, às historias e experiências de pessoas desconhecidas.  Ao passo que distanciam daqueles que carecem de nosso respeito, carinho e afago, e que estão ali do nosso lado, como as centenas de familiares dos homens mortos no Amazonas.

Preocupados em ter diariamente likes e clicks, em postagens que multifacetam nossas vidas, distanciamos e não conhecemos aquele que nos cercam e negamos até a nossa própria historia.  E talvez (e é) por isso, no primeiro contato que temos com alguém ou com alguma ação nova, caímos na empírica de julgar ou crucificar mais pelo que achamos do que pelo que realmente é. Mas o que é?

Estamos tão distanciados da realidade que assustamos quando ela vem ao nosso encontro, materializada em ações, fatos ou eventos indesejáveis como o fato em destaque. E como somos alheios à realidade e a historia, não raramente, também somos incapazes de comentar ou dá opiniões que venham somar valores ou condiz com a essência do real.

Assim, o interessante seria se houvesse a devolutiva dos seres humanos a terra e que esses ao retornarem tomassem posse de suas responsabilidades humanas e sociais com o objetivo de viverem em sociedade, sabendo e reconhecendo o valor de uma vida.

E a partir daí, não talvez não ficássemos bravos com o fato de uma família receber 50 mil por um erro grotesco e irresponsável que tirou a vida de 99 pessoas só em 2017, causados por gestores, que se repetem a cada minuto nos presídios, hospitais, escolas... Teríamos a serenidade e sabedoria de responsabilizá-los não puramente pela doação (indenização), mas pelo fato de respeitar e não prezar pelo valor da vida, não honrando com suas responsabilidades de acordo o cargo que ocupa e que pelo qual foi eleito.

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1 Comentário(s)

  • vitória | 07/06/2017 | 17:51 Muito bom
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